sábado, 15 de outubro de 2011

A maior coincidência, no entanto, que Freud, Jung, Skinner devem saber (mas eu não), é eu ter mencionado a "catedral submersa" no post de hoje antes de ler a postagem do dia 9 de agosto, que falava justamente do poema de Mallarmé citado por Rubem Alves.

Francamente, nossos cérebros são coisas de assustar.

Recomeços...

Passo tempos sem nem me lembrar da existência deste átrio remoto da grande catedral submersa na virtualidade e, de repente, como num engasgo, escrevo alguma coisa sofrível e venho até aqui registrar.

Acredito que a vida é a arte do recomeço. Recomeçar, sempre, é a arte de viver plenamente saúde e doença, começo, meio e fim; é privilégio humano concedido por uma inteligência superior a tudo e a todos; é benefício e privação, alegria e sofrimento, fraqueza e determinação... É aprendizado.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

A arte de Ouvir...

"(...)Não basta o silêncio de fora. É preciso silêncio dentro. Ausência de pensamentos. E aí, quando se faz o silêncio dentro, a gente começa a ouvir coisas que não ouvia. Eu comecei a ouvir. Fernando Pessoa conhecia a experiência, e se referia a algo que se ouve nos interstícios das palavras, no lugar onde não há palavras. E música, melodia que não havia e que quando ouvida nos faz chorar. A música acontece no silêncio. É preciso que todos os ruídos cessem. No silêncio, abrem-se as portas de um mundo encantado que mora em nós - como no poema de Mallarmé, A catedral submersa, que Debussy musicou. A alma é uma catedral submersa. No fundo do mar - quem faz mergulho sabe - a boca fica fechada. Somos todos olhos e ouvidos. Me veio agora a ideia de que, talvez, essa seja a essência da experiência religiosa - quando ficamos mudos, sem fala. Aí, livres dos ruídos do falatório e dos saberes da filosofia, ouvimos a melodia que não havia, que de tão linda nos faz chorar. Para mim Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto..."
(Rubem Alves - Escutatório)

terça-feira, 29 de março de 2011

Pássaro Galopante

Quase abril de 2011, Japaraíba, Minas Gerais, Brasil, Mundo - e eu ainda estou no mesmo lugar, passando pelos mesmos problemas e indagações de 5 anos atrás. Bom, realisticamente falando, "quase" os mesmos. Acho que a forma de encarar mudou um pouco: de tanto apanhar consegui forjar uma espécie de casco, estilo tartaruga mesmo, onde eu posso me esconder da realidade, do medo, não preciso mostrar o que sinto ou o que sou pra ninguém e é bem mais confortável do que ali fora.
Infelizmente, como nós somos feitos de tantas coisas, de tantas palavras, emoções, desejos e necessidades, alguma coisa lá no fundo sempre me diz que eu estou frita. Frita mesmo, porque se esconder não é atitude digna, que isso é ridículo, infantil, covarde. Só que ultimamente, enquanto milhares de pessoas lutam de cara limpa e desafiam seus opressores e o que as aflige (como as revoluções políticas), aqui no meu mundinho eu continuo do mesmo jeito. Sofrendo dos mesmos males (talvez com alguns a mais do que antes). Mas depois penso: quem é que não se esconde? Quem é que não tem a sua carapaça de lado, pronta pra ser usada quando for necessário? Hein? Quem é que não usa a sua máscara, personalizada, moldada especialmente para embelezar/ocultar os defeitos de seu verdadeiro rosto, do seu verdadeiro "ser"? Sabe, concordo plenamente com Nietzsche, porque se de nós fossem arrancados "todos os véus, os trapos, as cores e os gestos, de nós todos, restaria apenas o necessário para assustar pássaros."

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

A fome



Sabe, cheguei a 2011 sem muitas expectativas. De tudo que já li, de todas as simpatias que já fiz, e dentre todos os textos e previsões astrológicas que já tive em mãos, nenhuma me tocou, nada me emocionou. Nada acende o fogo. Eu sou fogo, sabe. Sou fogo que arde, feito poema do Catatau. Sou feita de um fogo que aquece, ofende, destrói, machuca, domina, forja flechas (palavras, ações), atinge, renova... Mentira. Parece ter perdido a intenção de renovar. É que eu não sei pra onde ir, o que fazer, o que desejar. Minha mãe diz que é falta de fome, pois as pessoas precisam ter fome de alguma coisa na vida (fome de conhecimento, fome de um amor, fome de justiça, de Deus, de comida mesmo), porque é assim que elas se movem. Não sei. Juro que essa teoria dela me intrigou, mas não me fez aquiescer, não. Pelo contrário, eu acho é que tenho fome demais, fome de tudo. Eu quero um amor (e encontro opções demais, leia bem: DEMAIS) e eu quero saber - mas é agora que são elas: eu quero saber da justiça, de Deus, da ciência, da história, da filosofia, dos outros, de mim, do agir, do viver. Falta um prumo, um ponto para unir todas as fomes.

Nós estamos abaixo do Divino, e acima do profano. Mas o que é divino e o que é profano? Qual o nosso grau de divindade que permite julgar algo profano ou vice-versa? Na verdade, nós somos é nada mesmo. Nada.

Se você não concorda, atente para o fato de que muitos dizem que ser o que se é, é tudo o que podemos fazer.
Mas afinal, o que nós somos?

Quem nós somos?


"♪ Someone swears his true love until the end of time, and another runs away.
Separate or united, healthy or insane: To be yourself is all that you can do..."